sexta-feira, 18 de dezembro de 2020

Recordar... Sabe(s) bem - Natais do passado

 

In Terra Manuelina, 30.ª edição 
(Ano letivo 2008/2009, 1.º trimestre)


In Terra Manuelina, 33.ª edição 
(Ano letivo 2009/2010, 1.º trimestre)


quinta-feira, 10 de dezembro de 2020

Recordar... Sabe(s) bem - Bibliotecas itinerantes

     
    « Levar o livro onde o livro nunca chegara; depô-lo sem reservas, com toda a confiança, em mãos que mal o conheciam; deixá-lo permanecer, durante dias ou semanas a fio, em casas e casas onde anteriormente jamais ele tinha entrado; criar nessas mãos e nessas casas o hábito saudável da sua presença; transformá-lo assim, pouco a pouco, numa quotidiana companhia quase tão necessária como o pão, indispensável como o sonho, útil como um arado ou uma ferramenta, exaltante como a esperança; abrir enfim, através dele, novas janelas sobre o mundo, novos horizontes na alma e no espírito de cada um: estes os objectivos que presidiram à criação do Serviço de Bibliotecas Itinerantes e Fixas da Fundação Calouste Gulbenkian e que, ao longo de um quarto de século, têm sido prosseguidos sem quebras nem desfalecimentos.(...)
    (...) os dois grandes critérios pioneiramente postos em prática pelo criador deste serviço - o escritor Branquinho da Fonseca - e que talvez deste modo se possam sintetizar: 
    1.º - As Bibliotecas da Fundação Calouste Gulbenkian, dirigindo-se à generalidade dos leitores, sem quaisquer discriminações de ordem social, cultural ou sequer etária (a não ser, obviamente, no que respeita à classificação dos próprios livros segundo a utilidade dos utilizadores e em função da sua gradual acessibilidade), sempre consideraram as próprias crianças como usufruindo, quanto a direitos e deveres, de um estatuto semelhante ao dos adultos;
    2.º -  As Bibliotecas da Fundação Calouste Gulbenkian sempre adoptaram, e continuam a adoptar, o regime de livre acesso às estantes e o regime de empréstimo domiciliário. (...)
    Por outro lado, o tipo de empréstimo praticado pelas nossas bibliotecas - e, principalmente no que se refere  às Bibliotecas Itinerantes, que visitam a aldeia ou lugarejo uma vez por mês, consentindo a cada utilizador a requisição de cinco livros - permite que, no intervalo de tais visitas, as crianças, sobretudo, troquem os livros entre si, desse modo se incentivando um certo espírito de comunidade, mais importante que toda e qualquer comunidade de gosto. (...)
    De qualquer modo, em relação às crianças, as nossas bibliotecas tão-só podem aspirar a ser ocasionalmente complementares da Escola. O nosso objectivo supremo é, antes, o de fomentar, logo desde a infância, o amor pelo livro e o gosto pela leitura.»

In Editorial do Boletim Cultural da Fundação Calouste Gulbenkian
Junho de 1984

UMA OBRA DE PAZ 
POR TRANCOS E BARRANCOS

por Armando Carmelo, 
Encarregado da Biblioteca Itinerante n.º 33 
(Redondo, Alentejo)


    Era uma vez um canhão que não queria ir à guerra...
    Começava assim uma pequena narrativa escrita por um pequeno leitor de sete anitos de idade que ma fazia chegar às mãos vai para quinze ou dezasseis anos.
    E tanto quanto me recordo (para desespero dos donos e senhores de tão opinosa máquina de guerra) ela preferia utilizar o seu trombudo, feio e belicoso apêndice destruidor como pacífica e útil mangueira e ajudar assim os homens que se afadigavam em apagar os fogos das florestas. 
    Viviam-se ainda, por essa altura, os terríveis anos da guerra colonial e aquela cândida história cheia de um tão admirável desejo de paz, soava já como prenúncio de gente melhor para um futuro diferente.
    Para mim, havia também algo de simbólico naquela narrativa. Os carros das bibliotecas itinerantes poderiam parecer, aos olhos das crianças deste País e daquele tempo, um pouco como o canhão da pacífica historiazinha.
    De verão ou de inverno, por trancos e barrancos, surgiam na rua da aldeia, no largo da vila ou no jardim da cidade às horas certas dos dias marcados. Feios por fora mas belos por dentro. Abertas as portas e os livros ali estavam à espera que os acariciassem, que os abrissem, que os vissem e que os levassem como companheiros de aventura. Tinham coisas maravilhosas para contar e faziam-no como só os livros o sabem e podem fazer. Repartiriam a sua história mil vezes sem se aborrecerem, mostrariam mil vezes as suas belas e coloridas gravuras sem esmorecerem. Apagariam mil fogos em mil florestas e fariam florescer  por toda a parte uma bela e estranha flor chamada CULTURA. Uma flor que muitos ainda desejam para enfeitar a sua própria lapela, que outros tanto desejam ver varrida da face da terra e que os vinte e cinco anos de actividade do Serviço de Bibliotecas da Fundação Calouste Gulbenkian tem feito multiplicar por toda a parte, sem alarde, quase envergonhadamente, como quando se tem a certeza de se estar a fazer algo de incomensurável e incomparável.
    Os "homens das carrinhas dos livros" como simpaticamente lhes chamavam por aí, têm uma profunda consciência da enorme e importante tarefa que têm ajudado a desempenhar.
    Com os seus "carros de combate" têm travado há um quarto de século a mais árdua batalha de qualquer guerra. E a única que é justa.
    A luta tem sido dura mas, a pouco e pouco, sentem que a vão ganhando: no pai que traz à biblioteca os seus filhos, no empregado, no professor, na dona de casa, no estudante, no trabalhador rural. A névoa começa a dissipar-se.
    Ano após ano, novas batalhas se ganham. Os livros são os melhores testemunhos.  São agora tratados com outros desvelos; duram mais apesar de mais frágeis. A biblioteca já faz parte da vida quotidiana das populações. Sente-se cada vez mais um novo tipo de relação entre o leitor e ela. escolhe-se o livro directamente da estante, mas, cada vez mais, espera-se que a biblioteca seja portadora do livro que se requisitou antecipadamente.
    O analfabetismo continua a existir mas já não traz pela orelha ou à pancada aquele que lê, para que devolva os livros que teve a "ousadia" de levar para casa.
    E contudo... certos grandes meios de comunicação social não fazem um incitamento, ainda que fugaz, ao consumo da leitura como um meio de CULTURA. Nem um só programa, nem um pequeno anúncio. Apenas um silêncio tenebroso e loquaz.
    Mas, apesar disso, a névoa dissipa-se.
Um dia qualquer, outra criança trará para eu ler uma outra história onde já não existem canhões porque eles terão cedido o lugar à esperança num mundo melhor que, dia após dia, mês após mês, ano após ano, as bibliotecas, os livros e todos nós teremos ajudado a encontrar.
    Assim o esperamos confiadamente.
In Boletim Cultural da Fundação Calouste Gulbenkian
Junho de 1984

O ponto de vista do leitor: 
AS BIBLIOTECAS DO CORAÇÃO

por Joana Morais Varela, 
Membro da Comissão de Apreciação de Livros

    
    De há muito se contam histórias em que alguém, que começa por tomar um preparado farmacêutico como remédio, acaba por viciar-se tanto nesse hábito como nesse sabor. Foi o que me aconteceu com o remédio que, na minha adolescência comecei a tomar contra a solidão, o isolamento, o acanhamento e o longo desfilar das horas, dias e meses. Eu explico: nasci, e tenho muito orgulho disso, numa terra chamada Marinha Grande, a uma dezena de quilómetros do mar, uma espécie de ilha cheia de chaminés no meio do pinhal. Cresci numa casa, ou melhor, em duas casas, recheadas em abundância daquilo que veio a constituir o meu vício: ou seja, papel impresso com sinais gráficos bem arrumadinhos em páginas e páginas, em livros e livros. Não me lembro muito bem da altura exacta em que comecei a devorá-los; sei, no entanto, que não tive uma infância fácil, apesar do mimo  e do conforto, apesar do mar e dos passeios ao pinhal. Crescer é doloroso, psíquica e fisicamente - e, hoje, penso que ser doloroso é natural em fibras, em células, em pensamentos que se desequilibram porque estão, muito simplesmente, num movimento prodigiosamente acelerado. Mas o que é um facto é que me sentia sozinha, desajeitada, "gauche" ("andas sempre na lua!") com dificuldade em falar com os outros, em brincar, em transmitir sobretudo, a simplicidade. E depois, remédio santo! A leitura, o nariz enfiado no papel, o refúgio na falta de luz. Assim, uma pessoa começa a ter características positivas próprias (isto, de um ponto de vista "social", mas, sobretudo, começa a ligar-se com outros através dos livros, da imaginação, do pensamento - e um dia será fácil comunicar, brincar.
    De qualquer forma, e foram muitos anos e muitos verões a ler tudo quanto havia nessas duas minhas casas. Entretanto, o liceu em Leiria. Posso dizer que, de um ponto de vista institucional (biblioteca da escola, bibliotecas públicas), nada veio alimentar o meu vício - talvez porque às instituições não convenha muito que se leia,  eu sei lá... O que quer dizer que não tenha havido professores, amigos, amigas que não me tenham passado a palavra, neste caso, a escrita. Quando não há bibliotecas institucionalizadas, há uma espécie de grande biblioteca comunitária constituída pelos livros emprestados, pelos livros dados, pelos livros referidos. É sobretudo dessas bibliotecas que gostamos, são sobretudo essas bibliotecas que lembramos. Na minha memória, aos livros que havia em minha casa, aos livros dos meus amigos, vêm sempre juntar-se os livros que li emprestados pela biblioteca fixa da Fundação Calouste Gulbenkian da Marinha Grande. Fui-os descobrindo da mesma forma que descobri os de casa: ou seja, com o prazer da aventura, de procurar relações entre eles, de inventar relações entre eles e eu própria. Isto porque, ao permitir que a gente os veja, os toque, os cheire, os leve para casa, a Fundação nos diz que gosta de livros e, como tal, com toda a segurança, sabe dizer: gostem vocês também!

In Boletim Cultural da Fundação Calouste Gulbenkian
Junho de 1984













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